
Há quase 20 anos, quando começou a atuar como voluntária na Casa do Migrante, em Cuiabá, Eliana Aparecida Vitaliano, 57 anos, não imaginava que teria de lidar com tantos migrantes estrangeiros em busca de uma nova pátria para viver com a família.
Na época, início da década de 2000, conta, a casa recebia poucas pessoas e elas realmente estavam de passagem.
Eram trabalhadores daqui e de outros estados que seguiam ou retornavam do interior, e turistas que haviam sido roubados, furtados ou perdidos os documentos para seguir viagens.
A partir de 2012, dois anos depois do terremoto que devastou o Haiti, a Casa do Migrante tornou-se o lar provisório de haitianos que fugiam da fome e do desemprego.
Começou, assim, uma nova batalha para Eliana e o grupo de pessoas que trabalhavam e se voluntariavam na Casa.
Então, a acolhida passou a ser por mais tempo, além de exigir a busca por emprego e moradia para os migrantes.
Mais recentemente, com a crise na Venezuela, a instituição começou a receber um grande número de venezuelanos que também fugiam da repressão, miséria e desemprego.
Criada pela igreja católica em 1980, a Casa do Migrante é mantida Pia (Sociedade dos Missionários de São Carlos), dos Padres Carlistas Scalabrinianos, e parcerias e doações.
A gestão de Eliana à frente da entidade inclui, além do gerenciamento interno, sensibilizar e mobilizar a sociedade para as questões migratórias.
Arquivo Pessoal

Mais recentemente, com a crise na Venezuela, a instituição começou a receber um grande número de venezuelanos
Pedir, fazer apelos em prol de adultos e crianças que chegam a um país desconhecido, sem dinheiro e fragilizados física e emocionalmente, passou a fazer parte da rotina dela. "Essa travessia é dolorida, divide e gera muito sofrimento às famílias", diz Eliana.
"O nosso trabalho não é só acolher, é proteger, promover e integrar", completa. Portanto, a partir da recepção do migrante começam várias lutas.
A primeira é garantir conforto e alimento, seguindo com a regularização da documentação, busca por emprego, moradia, entre outras.
Eliana explica que a permanência na casa é limitada e que a principal busca é pela desinstitucionalização do migrante, contribuindo para torná-lo protagonista da sua própria vida, com emprego, moradia, saúde, segurança. A Casa do Migrante vive em campanha permanente por doações.
Desde o alimento até panelas e móveis usados. É que o migrante consegue o emprego e precisa deixar a instituição suas carências deles não terminam.
O primeiro salário não é suficiente para o aluguel, alimentação, aquisição de móveis e utensílios, entre tantas outras despesas.
Por isso a entidade continua a auxiliá-los. Muitas vezes o auxilia, por exemplo, a conseguir um fogão usado. Readaptada para atendimento na pandemia, atualmente a casa abriga 45 migrantes.
Todavia, continua auxiliando muitos que já estão fora e passam por necessidades básicas como alimentação e assistência em saúde.
Além da Casa do Migrante, Eliana atua como professora efetiva da rede municipal de Cuiabá e trabalha em uma escola da periferia.
"Também sou uma migrante e fui bem acolhida pelos cuiabanos", completa.
Eliana veio com a família da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Fez Pedagogia na UFMT e aqui formou sua família.
Casou-se com um cuiabano com quem teve três filhos e agora tem dois netos.
Doações – telefones 3641-1451 e 3653-1353