MÚSICA Zizi Possi lança novo disco
Rodrigo Dionisio
Da Agência Folha São Paulo
A cantora paulista Zizi Possi está lançando
"Puro Prazer'' com a intenção declarada de
"zerar'' sua produção antes da chegada do ano
2000. Para isso, regrava algumas canções e introduz
algumas novidades no seu repertório.
"Não estou passando nada a limpo, estou só
zerando. E também não estou fazendo balanço. Estou
apenas cantando com muito prazer'', afirmou Zizi, em
entrevista à reportagem.
E nesse "prazer'' de 14 canções, cinco tem
autoria ou co-autoria de Chico Buarque. "Eu poderia
dizer que é pelos belos olhos dele, mas não é bem
assim. Quando eu escolho cantar uma música, dificilmente
eu paro pra pensar em quem a fez, penso mais na obra que
no autor. Atribuo essa frequência do Chico a mais
sincera identidade, admiração e alimentação que ele
me traz'', disse.
O formato do disco, voz e piano, tem referências
claras à formação da cantora e das aulas do
instrumento, da sua passagem por Salvador e do disco
"Sobre Todas As Coisas'' (1991), que Zizi fez a
partir de um show onde tocava piano acompanhada,
originalmente, apenas pelo percussionista Marcos Suzano.
"O disco Sobre Todas as Coisas é um
trabalho que marcou mais do que uma fase musical ou
pessoal. Ele significa o meu primeiro mergulho estético
no meu próprio mundo musical. É lógico que sem o meu
conhecimento pianístico não teria conseguido desenhar
esteticamente os arranjos e o conceito. "Puro
Prazer' é uma celebração de uma linguagem já criada,
lapidada. Num eu ousei. No outro comemorei'', definiu.
Mas, como "Sobre Todas as Coisas'', "Puro
Prazer'' nasce da estrada. Mais exatamente da parceria de
Zizi com o pianista Jether Garotti Jr., que acompanha a
cantora há nove anos. Segundo Zizi, ela e o músico
costumam fazer "alguns shows, às vezes''.
"Uma das coisas mais importantes que eu aprendi
nesses 22 anos é que dissociar meu trabalho do prazer é
uma perda irreparável. Quando ensaio com o Jether, é
tão gostoso que vivia dizendo: Seria lindo se a gente
transformasse isso num show. Assim foi. E o show virou
disco'', disse.
Trabalho zerado, registro de antiga parceria feito,
comemoração concluída (mas não totalmente, Zizi
promete para as primeiras semanas de dezembro a estréia
do show de "Puro Prazer''), reconhecimento ao
trabalho dos grandes autores. E agora, o que esperar?
"Quando eu souber, saberei também a combinação de
números sorteados na Mega Sena!'', concluiu Zizi.
Cantora
contraria leis de mercado
Pedro Alexandre Sanches
Da Agência Folha São Paulo
Primeira boa notícia: ela renunciou à síndrome de
titã, e "Puro Prazer'' não é uma Zizi Possi
italiana volume 3. Contrariando tendências do mercado,
não é Zizi ao vivo, não é Zizi acústica, não é
Zizi canta Mamonas.
Notícias não tão boas? As "italianices''
-sucesso é sucesso- ainda dizem presente em algumas
faixas, e o espanhol de "Volver a los 17'' (de
Violeta Parra), talvez força do hábito, quase parece
italiano. E é, quase sempre, um "Zizi canta Zizi''
-"Sobre Todas as Coisas'' de novo, "Eu Te Amo''
outra vez, assim por diante. Poxa, o acervo da MPB é
tão maior que isso...
Assim é que "Puro Prazer'' começa todo
esquerdista, sisudo e bonito, com "Disparada'', de
Geraldo Vandré e Théo de Barros, e "Volver a los
17'', para (quase) terminar com "Meu Erro'', de
Herbert Vianna, que ela já cantou umas tantas vezes na
vida. Está dito.
Bem. "Puro Prazer'' é, com tudo isso, um projeto
de trave. Ousa -dispensando as maiores obviedades-, mas
teme à ousadia -abraçando obviedades menores. É um
elegante e sofisticado álbum sem coragem, e é isso que
Zizi anda devendo à MPB, desde que deu o admirável pulo
de se desvincular da imagem da cantora brega de "Asa
Morena'' e "Perigo'' para cair, olha aí de novo, no
corajoso "Sobre Todas as Coisas'' (91).
Navegando em círculos, o que sobra é ela evoluir
como cantora. É a principal qualidade de "Puro
Prazer''. Se o formato voz e piano às vezes torna o
produto final um pouco opressivo, a voz é o que há no
álbum.
Zizi ainda margeia a solenidade excessiva, e o
contraste da "Disparada'' bruta e galopeira de Jair
Rodrigues com a sua, de cantora de salto alto, faz
curiosidade sobre como seria uma Zizi Possi mais solta,
menos tensa.
É um detalhe, entretanto. Ali, em "Luíza'' (de
Tom Jobim), em "Viver, Amar, Valeu'' (de
Gonzaguinha), em "Eu Te Amo'', em quase tudo, é uma
cantora de rédeas que está em movimento. É apenas uma
parte do negócio, esperamos Zizi em todas elas.
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